Homenagem

Homenagem que presta a Condessa Maiara de Sosibin, Baronesa de Bala, ao seu senhor o Duque Setimai de Astibela, Marquês de Tasabian

Tendo falecido, no último mês de seneris, o Conde Delel de Sosibin, cuja família há mais de dez gerações tem servido lealmente aos Duques de Astibela, veio a sucedê-lo sua filha mais velha, a jovem Viscondessa Maiara de Sosibin. Assim sendo, aos onze dias do mês de menaris de 1084, reuniu-se, com toda a pompa própria da ocasião, no Grande Templo da Fé Verdadeira de Nossa Mãe Sara, toda a nobreza de Astibela, para testemunhar a homenagem da herdeira, desde então Condessa de Sosibin, ao seu senhor o Duque Setimai. Sete marqueses e marquesas, quarenta e dois condes e condessas, duas centenas de viscondes e um milhar de barões, sem contar uma infinidade de lordes e damas, trajados em suas melhores roupas, se fizeram presentes desde a terceira hora da tarde. O Duque compareceu vestido em elegantíssima túnica de cor pérola, bordada a fio de ouro, em companhia de sua esposa a Duquesa de Astibela, marquesa Sinis de Tasabian, e escoltado por doze altos oficiais da Guarda Ducal. O populacho se aglomerava na praça em frente ao templo, venerando os seus nobres benfeitores e os inumeráveis clérigos de Sara.

Pouco depois da quarta hora, chegou à praça o séquito da condessa, formado por quinze carruagens, trazendo os viscondes e barões seus vassalos, além de um cortejo de uma centena de lordes e damas, e quarenta infantas da Guarda do Condado, trajando uniforme escarlate de gala e portando alabardas. À frente vinha a Condessa, montada num cavalo branco com arreios de prata, e trajando um vestido longo, também branco, e sem nenhum ornamento, excetuado o colar devocional de pérolas e o diadema de aço cravejado de rubis que já há cinco gerações é o símbolo dos condes de Sosibin. Não houve quem não admirasse e elogiasse a profunda simplicidade da condessa.

Ao chegar à frente do Templo, o esposo da condessa, o Conde de Sosibin, barão Fainel de Bala, adiantou-se para ajudá-la a descer do corcel. Em seguida, as guerreiras da Guarda do Condado depuseram suas armas, e ela tirou o diadema e o colar e desembainhou a espada, entrando no recinto sagrado. Trazia a espada na vertical, junto aos lábios, como se a beijasse, e as jóias da família pendentes da mão esquerda. A orquestra e o coro do Grande Templo executaram então o Canto das Horas da Noite, de Luca de Teruan, enquanto, com passos firmes, embora lentos, ela atravessava o corredor central do templo, até o altar, onde a aguardavam o Duque e os Pentarcas da Fé Verdadeira em Astibela. Ali chegando, ela colocou a espada e as jóias aos pés do Duque, e, ajoelhando-se, disse, em voz forte e clara:

- Senhor: há tantas gerações que meus ancestrais vêm servindo aos vossos, que já se perde a memória do início de tão alta distinção. Não vos temos, porém, senhor, servido com palavras, mas com atos e gestos. Por este motivo, peço-vos licença para ser breve; não aprendi a lidar tão bem com os verbos como com a espada. Aqui tendes, senhor, tudo que, por vossa mercê e graça, pertenceu ao meu falecido pai: a garrida terra de Sosibin, que vos trago neste diadema; a espada com que sempre lutamos ao vosso lado; e a fé que sempre foi a nossa. É tudo vosso; dai-lhes o destino que vos aprouver. Nada mais direi, senhor, pois conheço os limites desta vossa leal servidora. Se quiserdes, porém, perguntai à espada. Mais do que eu, ela pode testemunhar.
O Duque, então, tomou da espada da condessa, dizendo:

- Maiara, filha de Fainel, meu leal servidor, levanta-te. Como tem sido costume, e como manda a gratidão, a ti, Maiara de Sosibin, concedo em benefício o Condado de Sosibin, com todas as peagens, laudêmios, terças, corvéias, foros, portagens e outros direitos, inclusive a administração da justiça. Que Sara, nossa mãe, derrame sobre ti todas as bênçãos que a gratidão pode trazer.
Respondeu então a Condessa:

- Senhor, nada posso vos dizer que se aproxime do júbilo e da gratidão que me inundam o peito. Contai sempre com a nossa hospitalidade e com as nossas armas. Que, por gerações sem fim, Astibela continue a arrimar-se em Sosibin.
Então a Decana dos Pentarcas perguntou:

- Maiara de Sosibin, filha de Sara, é verdadeira tua lealdade?

- Sim, mãe, eu juro.

- Setimai de Astibela, filho de Sara, é verdadeira tua confiança?

- Sim, eu juro, minha mãe.

- Que Sara seja então testemunha desta aliança. Não conteis com o perdão de vossa mãe se ela for, por culpa vossa, um dia rompida.

O Duque entregou então à Condessa a espada e as jóias, e os nobres começaram a retirar-se do templo, comentando, alegremente, os trajes e as palavras que tinham acabado de ver e ouvir.

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